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Arquitectura e Escultura Maneiristas

Villa Rotonda e Basilica di San Giorgio Maggiore, por Palladio

A Arquitectura rompe com os cânones clássicos, passando a usar de irregularidades, elementos estruturais redundantes, decorações caprichosas e teatrais e um espaço estreito, projectado longitudinalmente, valorizando-se a profundidade. Busca-se o desequilíbrio, perdendo-se a preferência pela simetria, partindo-se os edifícios por consolas. Os exteriores são adornados com revestimentos pétreos decorativos rectangulares (silharia, que é feita rude).

As tipologias mais frequentes permanecem as promovidas no Renascimento, desde os vários esforços urbanísticos à Villa, ao Palazzo, à Igreja. A Igreja é feita algo austera, numa única nave interior sob uma abóbada de berço, preferida por razões de acústica. Capelas inseriam-se entre contrafortes, o transepto era pouco saliente, uma cúpula sobre o cruzeiro e uma capela-mor reduzida à abside.

Palazzo Pitti, por Brunelleschi e reinterpretado por Vasari

Há um novo sentido da volumetria e distribuição formal do edifício, que segue as instruções do Concílio de Trento, nas orientações da Contra-Reforma Católica.

São Michelangelo e Vasari os primeiros a evidenciar este espírito estético e intelectual.

Andrea Palladio, mais tarde, tentaria impor de novo o classicismo arquitectónico. Vignola, por fim, foi um outro nome que se impôs na arquitectura maneirista.

"Sansão derrota o Filisteu" e Crucifixo do Escorial, por Ammannati

A Escultura Maneirista, por sua vez, caracteriza-se pela perda de rigor clássico, substituindo o realismo racional pelo virtuosismo técnico e formal. É subjectiva, sentimentalista, sensível, privilegiando a sensualidade plástica, e contínua a variar em dimensões e modalidades. Grandes nomes deste estilo artístico foram Bartolomeo Ammanati, Giambologna ou Benvenuto Cellini. Fora de Itália, destaque para o espanhol Alonso Beruguete.

A estatuária de grande dimensão é a mais comum, servindo como monumentos, representativos e decorativos, especialmente profana, pelo período de austeridade iconoclasta da Reforma Protestante, que se levantou contra os ídolos cristãos. Coleccionadores fizeram florescer um mercado de estatuária mais pequena.

“Fontana del Nettuno”, por Cellini; aqui o escultor tira partido do contraste cromático do mármore e do bronze

A figura individual muitas vezes roda sobre si mesma, em ascensão. Grupos escultóricos tendem a exibir escorços difíceis, expressões faciais e corporais intensas, em grandes jogos de volumes e contrastes de luz e sombra; estes grupos são normalmente mitológicos, alegóricos ou comemorativos.

Os escultores começam também, além de criar as estátuas em vulto redondo, a tirá-las de um conceito de unifacilidade para uma concepção de perspectiva estereométrica multivisual, para a contemplação omnilateral da obra.

"Perseu com a cabeça de Medusa", de Cellini


Arquitectura Renascentista

Ordens gregas (dórica, jónica, coríntia)

A arquitectura renascentista é impulsionada pelos primeiros movimentos vanguardistas florentinos – é em Florença que primeiro se tomam os passos inovadores do Renascimento arquitectónico.

A Arquitectura Florentina é a primeira a retornar ao passado clássico, observando a evidente herança greco-romana e recuperando tratados como os do romano Vitrúvio. Assim, surgem novos motivos decorativos e uma busca continuada de proporção ideal, equilibrada e simétrica, em que o estudo/projecto ganha lugar na concepção estruturante do edifício, alicerçado na geometria.

A herança greco-romana é readaptada num movimento Classicista, que volta a dar destaque às ordens arquitectónicas clássicas (dórica, jónica e coríntia; toscana e compósita) e as colunas, ao frontão triangular, ao arco de volta perfeita, abóbadas e cúpulas. Simultaneamente, sobrevaloriza-se a racionalização da estrutura através de rigorosa matematização.

Os principais homens do primeiro renascimento foram:

"Santa Maria del Fiore", por Arnolfo di Cambio, Brunelleschi e Giotto di Bondone

Fillipo Brunelleschi – foi primeiro ourives, mas dedicou-se à arquitectura inspirado no seu estudo de ruínas romanas, fascinado pela volumetria, planificação, decoração desses edifícios; este promove a nova concepção de tipologia religiosa da Igreja, em que o espaço interior se unifica, suprimindo-se a divisão rigorosa em naves. As suas maiores obras incluem a cúpula de Santa Maria del Fiore ou a Igreja de San Spirito.

"Palazzo Rucellai" de Alberti

Leon Battista Alberti – este arquitecto promoveu uma nova tipologia de estruturas urbanas, focando o palazzo (os seus maiores exemplos de edifícios citadinos são o Palazzo Rucellai ( em que usa o opus reticulatum para imitar as ordens decorativas do Coliseu) e Ospedale degli Innocenti); escreveu tratados como “De satua“, de proporção anatómica, “De pictura“, a primeira definição científica da perspectiva linear, ou “De aedificatoria“, que compila a teoria da nova arquitectura pensada sobre a medida do Homem, racionalizada geometricamente.

Com estes homens, o vocabulário construtivo e ornamental clássico é renovado e expandido, numa emergência duma utopia urbanística estruturada sob uma malha regular/alinhamento geométrico, no qual surge destacada uma praça central, novo local nobre elitista. Esta nova projecção lança os edifícios na direcção horizontal, aproximando-a ao Homem, de acordo com o sentimento humanista da Renascença, em detrimento da verticalidade gótica.

"Tempietto di San Pietro" de Bramante

E, a par do urbanismo, a Igreja, no Concílio de Trento, impõe as suas próprias directrizes, como unificação do espaço sob uma única nave, ou a garantia de iluminação para uma visão absoluta do espaço. A fachada e o portal principal permanecem como os trunfos da obra. A arquitectura religiosa também assume plantas de cruz grega em detrimento da latina basilical, preferindo a simetria quadrangular perfeita. Nesta forma arquitectónica, destacou-se Donato Bramante, que erigiu Tempietto di San Pietro e planificou a Basilica di San Pietro, que contou também com a colaboração de, entre outros, Giuliano da Sangallo, Fra Giocondo, Raffaello e Michelangelo.


Vida Urbana e o Palácio

No contexto histórico da Renascença, a vida cultural centra-se nas cidades. Bispos e escolásticos, universidades, negociantes, cambistas, todos se instalam nas urbes, mesmo os nobres senhoriais, que trocam o castelo rural por uma habitação urbana fortificada, o palazzo.

Este é um símbolo das elites que o habitam, e um ponto de encontro para aristocratas, artistas, filósofos… A sua planta é, normalmente, quadrangular, de três ou quatro pisos. É de pedra, aparelhada com reforços maciços no rés-do-chão, por vezes ganhando um aspecto compacto. As fachadas exteriores eram austeras, mas as interiores, viradas para o pátio interior, eram mais delicadas, com loggias, arcadas expostas com estatuária, mármore e cerâmica esmaltada tipicamente romana. Todas as divisões se organizavam viradas para o pátio, e de modo funcional: serviços no rés-do-chão, depois dependências sociais e por fim aposentos privados.

O novo estilo de vida requintado e luxuoso girava em torno de festas, bailes, saraus, banquetes, tertúlias intelectuais, teatro, música, poesia. Bibliotecas, museus privados e tipografias foram criados para satisfazer o acrescido interesse pelo coleccionismo e leitura. Encomendas e patronato promoviam as obras dos artistas, convidados, por vezes, a equipar oficinas pelos mecenas.